O governo Lula inicialmente não demonstrava interesse na instalação de uma CPMI para apurar o escândalo envolvendo o INSS. Acabou, no entanto, concordando com a iniciativa após ouvir de políticos experientes que não havia motivo para grande preocupação, pois a situação estaria sob controle. Esse tipo de avaliação costuma surgir quando muitos temem ser atingidos, independentemente de partido ou coloração política.
A estratégia, porém, não funcionou. Nesta quinta-feira (18), a Polícia Federal prendeu o número 2 do Ministério da Previdência Social e avançou sobre um senador, vice-líder do governo, com ligações políticas que se estendem em diversas direções. Os nomes que ganharam as manchetes em razão da operação já eram conhecidos no âmbito da CPMI, mas foram blindados no início do mês por intensa articulação política promovida pela base governista.
Na galeria de personagens que mais parecem saídos de uma obra de ficção, a Polícia Federal destacou conexões cruzadas que também atingem um dos filhos do presidente Lula (PT), o que levou o chefe do Executivo a declarar que, caso haja envolvimento, a investigação deverá ocorrer.
O escândalo do INSS provocou impacto direto nas contas públicas, novamente pressionadas pela necessidade de ressarcimento imediato a milhões de prejudicados. É evidente, contudo, que o caso também afeta o tema que mais preocupa o Palácio do Planalto: as eleições do próximo ano.
Para Lula, confrontar a oposição em torno da redução de penas dos condenados pelos atos de 8 de janeiro significa atuar em um terreno que considera favorável. Já enfrentar o fato de a palavra “corrupção” voltar a ser associada ao PT — de forma ainda mais intensa do que a outras agremiações — representa um desafio de natureza distinta, provavelmente com peso eleitoral muito maior.

