Em pronunciamento em cadeia nacional de rádio e TV neste domingo (30), o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) afirmou que a ampliação da faixa de isenção do Imposto de Renda para salários de até R$ 5 mil é um passo decisivo no combate à desigualdade e elimina o que chamou de “privilégio vergonhoso” da elite econômica. A lei foi sancionada no último dia 26 e começa a valer em janeiro de 2026.
Segundo Lula, a medida representa a maior mudança no IR em mais de um século e corrige distorções históricas. “Pela primeira vez, mais de cem anos após o início do Imposto de Renda, privilégios de uma pequena elite financeira deram lugar a conquistas para a maioria do povo brasileiro”, disse. Ele reforçou que a reforma busca enfrentar a “injustiça tributária”, que, em sua avaliação, é a principal causa da desigualdade no país.
Economia no bolso e impacto no consumo
Lula destacou que trabalhadores que ganham até R$ 5 mil deixarão de ter o imposto descontado já a partir de janeiro. Ele citou como exemplo quem recebe R$ 4.800 por mês: essa pessoa poderá economizar até R$ 4 mil ao longo do ano — “quase um 14º salário”, afirmou.
O presidente também pontuou que haverá redução de imposto para rendas entre R$ 5 mil e R$ 7.350. Segundo cálculos da Receita Federal, a mudança deve injetar R$ 28 bilhões na economia em 2026. Para Lula, esse efeito multiplicador — mais dinheiro disponível, maior consumo e aumento da atividade econômica — trará estímulos significativos ao comércio, à indústria e aos serviços.
Taxação dos super-ricos como compensação
O presidente afirmou que a compensação da renúncia fiscal não afetará áreas como saúde e educação. Ela virá da taxação dos chamados super-ricos — cerca de 140 mil contribuintes que ganham mais de R$ 600 mil por ano. Eles deverão pagar uma alíquota mínima de 10% sobre a renda.
“Estamos falando de 0,1% da população, de gente que ganha até 100 vezes mais que 99% do povo brasileiro”, afirmou Lula. Ele disse que hoje quem vive de trabalho chega a pagar até 27,5% de imposto, enquanto quem vive de renda paga, em média, 2,5%. “Quem mora em mansão, coleciona carros importados e jatinhos paga dez vezes menos do que uma professora ou uma enfermeira. Isso é inaceitável.”
Discurso com tom social e eleitoral
Durante o pronunciamento, Lula afirmou que a desigualdade no país é hoje a menor da história, citando dados do Ipea, mas insistiu que a concentração de riqueza segue elevada: “O 1% mais rico acumula 63% da riqueza do país; a metade mais pobre, apenas 2%”.
O presidente também mencionou políticas sociais de seu governo — como Bolsa Família, Pé-de-Meia, Luz do Povo e Gás do Povo — e disse que todas fazem parte de uma estratégia mais ampla para ampliar renda, reduzir desigualdades e fortalecer a economia.
A ampliação da isenção do IR é uma promessa de campanha de 2022 e será um dos principais pilares da campanha de Lula para a reeleição em 2026. A medida foi aprovada por unanimidade na Câmara e no Senado, embora a cerimônia de sanção tenha ocorrido sem a presença dos presidentes das duas Casas, em meio ao aumento de tensões entre o governo e o Congresso.
“Apenas o primeiro passo”
Lula encerrou o discurso dizendo que a mudança no IR marca uma “virada histórica”, mas afirmou que novas ações virão. “Seguiremos firmes combatendo os privilégios de poucos para defender os direitos e as oportunidades de muitos. O nosso governo está do lado do povo brasileiro construindo um país mais próspero, mais forte e mais justo.”
