A saúde bucal tem um papel muito maior do que se imagina no desempenho físico, seja de atletas profissionais ou amadores. Para que o corpo responda com eficiência a treinos intensos, viagens, competições e processos de recuperação, é essencial que o organismo esteja em equilíbrio — e isso inclui a boca.
Condições bucais desfavoráveis não apenas causam dor ou desconforto, como também podem comprometer diretamente o rendimento esportivo. Desde 2015, o Conselho Federal de Odontologia reconhece a Odontologia do Esporte como especialidade, justamente por sua importância crescente na prevenção de lesões e no monitoramento da saúde de atletas de alto desempenho.
Inflamação: da boca para o músculo
Problemas aparentemente simples, como gengivites, periodontites e cáries, elevam o estado inflamatório crônico do organismo. Esse processo sistêmico pode predispor o atleta a lesões musculares, inclusive em regiões distantes da cavidade bucal.
Estudos mostram que quadros inflamatórios persistentes aumentam o risco de estiramentos recorrentes, como os muito comuns em músculos da coxa entre jogadores de futebol. Da mesma forma, o corpo de um atleta com inflamação ativa tende a responder mais lentamente aos processos de cicatrização, retardando a recuperação de lesões já instaladas e reduzindo a capacidade de treinar em intensidade máxima.
Quando bactérias da boca chegam ao coração e aos pulmões
Outro ponto crítico é a disseminação de bactérias provenientes de infecções bucais. Quando entram na corrente sanguínea, podem atingir órgãos vitais, como coração e pulmões, provocando quadros que vão de endocardite a infecções respiratórias. Essas condições, além de graves, interferem diretamente na performance, já que comprometem a capacidade cardiorrespiratória e exigem afastamento das atividades esportivas.
Em outra perspectiva, a Odontologia do Esporte atua também na proteção durante treinos e competições. Protetores bucais individualizados, usados em esportes de contato, reduzem drasticamente o risco de fraturas dentárias, cortes nos lábios e lesões nas gengivas. Já os protetores faciais — as conhecidas máscaras usadas por atletas após fraturas — permitem o retorno ao esporte mesmo antes da consolidação óssea completa, garantindo segurança e continuidade na rotina competitiva.
Cuidado com o doping por medicamentos odontológicos
Por fim, é importante lembrar que determinadas substâncias e métodos utilizados na odontologia podem levar o atleta ao doping positivo quando não há orientação especializada. Analgésicos, anti-inflamatórios e até enxaguantes específicos podem conter componentes proibidos em competições. Por isso, o acompanhamento integrado entre dentista e equipe multidisciplinar é essencial.
Todos esses fatores reforçam que o cuidado com a saúde bucal não deve ser encarado apenas como um complemento, mas como parte estratégica da preparação física. Atletas que mantêm a boca saudável têm menor risco de lesões, recuperam-se melhor, respiram adequadamente, evitam infecções e conseguem alcançar níveis mais altos de desempenho.
*Texto escrito pelo cirurgião-dentista Danilo Henrique Lattaro, especialista em Odontologia do Esporte e Periodontia, diretor da Academia Brasileira de Odontologia do Esporte e membro da Câmara Técnica de Odontologia do Esporte do Conselho Regional de Odontologia de São Paulo

